CAÇA E NATUREZA: A CONSERVAÇÃO NA MIRA
4 de março de 2021, 21h30 – 23h00 | Online
Nesta era de supermercados e comida entregue pronta à nossa porta, é fácil esquecermos que somos caçadores inatos. Somos caçadores e, se não o fôssemos, não seríamos humanos. Várias características que nos separam das espécies que nos são mais próximas, como a capacidade de correr longas distâncias ou o cérebro exageradamente grande, parecem advir, pelo menos em parte, de adaptações à caça. Entre a comunidade científica, ainda não há consenso em relação ao momento exato em que os nossos antepassados se iniciaram na caça, mas há evidências que apontam para isso tenha acontecido há cerca de 2 milhões de anos. Ao longo deste tempo, a introdução de carne na nossa dieta correspondeu a um aporte de calorias extra, que poderá ter permitido um crescente aumento do tamanho do cérebro, o que, por sua vez, terá dado azo ao desenvolvimento de tecnologias cada mais eficazes de caça e, assim, a acesso a mais carne. Mas o aumento do cérebro não serviu apenas para apurar a caça e, há cerca de 12 mil anos, o ser humano começou a domesticar espécies vegetais e, pouco depois, também animais, levando a uma alteração radical da ocupação territorial humana, com implicações em praticamente todas as facetas do quotidiano, incluindo a caça. Saltando para a atualidade, a caça perdeu a sua vertente de subsistência, ganhando estatuto de lazer e desporto. Não obstante, quando realizada de forma sustentável, a caça pode contribuir para a conservação de populações selvagens e respetivos ecossistemas, beneficiando, simultaneamente, a sociedade. Mas o que significa caça sustentável? É esta a caça praticada em Portugal? Se sim, porque tem associada, pelo menos nas populações urbanas, uma carga tão negativa? E se não, porque não? E como chegamos lá?
Investigadores convidados
António Paula Soares (ANPC – Associação Nacional de proprietários rurais, gestão cinegética e biodiversidade)
Licenciado em Engenharia Biofísica pela Universidade de Évora, e pós graduado em Gestão Empresarial pelo INDEG-ISCTE, vive em Águas de Moura, em plena paisagem protegida da Reserva Natural do Estuário do Sado e com fortes ligações ao Parque Natural do Vale do Guadiana, tendo aliado o seu gosto pelo campo à sua carreira profissional e ao seu dia a dia na gestão sustentável de propriedades rurais multifuncionais, com uma aposta na conservação da natureza e na promoção da biodiversidade. A particularidade da sua vida profissional levou-o, ao longo dos anos, a tornar-se ativo como representante da sociedade civil, e do mundo rural em particular, assumindo diversos cargos em entidades de prestígio nacional e internacional, de entre os quais se destacam os que representa atualmente, como a Presidência da ANPC – Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, membro da Direção da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, membro da Direção da CEPF – Confederação dos Proprietários Florestais Europeus, e o importante cargo de Chairman do Grupo de Diálogo Civil “Forestry & Cork” da Comissão Europeia. Paralelamente, o gosto pela escrita e pelo debate de ideias proporcionou-lhe convites para a escrita de artigos de opinião em diversos órgãos de comunicação nacional e participação em eventos nacionais e internacionais, de onde se destacam os diversos artigos na revista Sábado online ou o papel de comentador residente do programa ambiental “Som Ambiente” do Observador, onde assume o papel de defesa de um mundo rural e das suas atividades, que cada vez se encontram mais distantes e desconhecidos de uma sociedade cada vez mais urbana.”
Paulo Célio Alves (CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos)
Biólogo, Professor Associado com Agregação do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, vice-coordenador científico do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, onde é investigador responsável do grupo CONGEN – Genética da Conservação e Gestão de Fauna Selvagem. Professor Afiliado na Universidade de Montana e Curador Afiliado do Museu de Vertebrados da Universidade de Cornell, tem dedicado a sua atividade de investigação à biologia da conservação e gestão de populações selvagens, integrando a genética, ecologia, demografia, sanidade, e taxonomia. Autor de várias publicações, incluindo artigos científicos, livros, capítulos de livros e artigos pedagógicos, foi o fundador e é o atual presidente da Sociedade Mundial dos Lagomorfos.