O ECOSSISTEMA EM NÓS: O SURPREENDENTE MUNDO DO MICROBIOMA HUMANO
1 de abril de 2021, 21h30 – 23h00 | Online
Ver para crer. É principalmente através dos olhos que nós, seres humanos, nos orientamos, criamos perceção e entendemos o mundo. Não é, pois, de espantar que a história da microbiologia seja tão recente e que o seu início esteja associado à invenção do microscópio, na viragem do séc. XVII. Foi preciso vermos os micróbios para os conseguirmos integrar realmente na nossa realidade. E com esta revelação veio a compreensão integral de várias doenças; a capacidade de isolar e identificar o agente causador – patogénico –, permitindo implementar soluções terapêuticas e, em alguns casos, até profiláticas. A opinião pública ficou com a ideia de que muitas das nossas doenças são causadas por micróbios capazes de comprometer o nosso bem-estar e até a nossa vida, e que um bom micróbio é um micróbio morto. O desenvolvimento da tecnologia, tanto a nível de microscopia como molecular, foi permitindo um crescente conhecimento sobre este mundo invisível e hoje sabemos que os seres vivos mais antigos, mais ubíquos, mais bem-sucedidos e mais diversos do planeta são, de longe, as bactérias. O que significa que toda a subsequente vida foi evoluindo no meio de bactérias ou, melhor, foi co-evoluindo com bactérias. O nosso corpo alberga 10 vezes mais células de micróbios do que células humanas, o que faz de cada um de nós verdadeiros ecossistemas, composto por milhares e milhares de espécies diferentes. Espécies que interagem entre si e com o ambiente, que somos nós. Hoje sabemos que estes ecossistemas que nos compõem e formam parte da nossa identidade são fundamentais para o nosso bem-estar e a nossa saúde, podendo, em muitos casos, ser a solução para muitos dos problemas de saúde humana mais prementes da atualidade. O que já sabemos sobre o nosso microbioma? Como o estudamos e como estudamos a sua interação connosco? Que efeitos têm na nossa saúde? E, mesmo que ainda a braços com uma pandemia que nos virou a vida de pernas para o ar, será que podemos fazer as pazes com os micróbios?
Investigadores convidados
Conceição Calhau (Nova Medical School, NSM, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa)
Licenciada em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), Conceição Calhau iniciou a sua carreira no Instituto de Farmacologia e Terapêutica da Faculdade de Medicina da mesma Universidade (FMUP) em 1996, tendo estada ligada ao ensino nas áreas da Bioquímica, da Nutrição e da Toxicologia Alimentar. Em 2002, concluiu o seu doutoramento na FMUP. Já em 2010, foi a vez de se apresentar a Provas de Agregação na mesma instituição, na área do Metabolismo. Integrando atualmente os quadros da NOVA Medical School (NSM) – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, na qualidade de Professora Catedrática, Conceição Calhau é fundadora e coordenadora da recém-criada Licenciatura em Ciências da Nutrição da NMS. As suas principais áreas de interesse de investigação têm sido os polifenóis, os alteradores endócrinos, a disfunção metabólica e, mais recentemente, a monitorização do estado nutricional de iodo em crianças em idade escolar e em grávidas, tendo participado em diversos projetos de investigação financiados a nível português e europeu, envolvendo a indústria agroalimentar. É coordenadora do grupo de Nutrição na rede nacional de ensaios clínicos PtCRIN e autora de mais de 170 publicações científicas indexadas, para além de ocupar o cargo de presidente do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Nutricionistas (2015-2019) e de membro consultor de diversas sociedades científicas e médicas.
Fernando Tavares (CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos)
Fernando Tavares é biólogo, doutorado pela Universidade de Umeå, Suécia, Professor Associado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e Coordenador Científico do grupo de Diversidade e Evolução Microbiana (MDE) integrado no laboratório associado CIBIO-InBIO. Os seus principais interesses estão centrados no desenvolvimento de métodos moleculares de deteção, identificação e tipagem de bactérias que sirvam de base a estudos epidemiológicos e de diversidade bacteriana, e ainda na caracterização de determinantes genómicos das adaptações de microrganismos a diferentes ambientes, que possam no seu conjunto elucidar mecanismos evolutivos em bactérias. Tem conciliado esta componente de investigação em microbiologia aplicada e fundamental, com projetos em educação em ciências com o objetivo de aumentar a literacia científica nos níveis de ensino do 1.º ao 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, de forma a estimular uma cultura de cidadania cientificamente esclarecida. Tem sido responsável de vários projetos de investigação nacionais e integrado consórcios internacionais, estando o seu percurso científico documentado em numerosos artigos científicos.