“Sobre as ervas, entre a folhagem”
(do poema Jardim de Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947)
Como se fosse uma espécie de herbário pictórico, em que as plantas, as folhas e ramos, as flores, as ervas, são captadas e registadas na superfície, este trabalho é baseado predominantemente nas formas vegetais. As cores e formas que se sobrepõem e associam quase aleatoriamente nestas pinturas, tentam apropriar-se da vida do jardim, em que as plantas crescem livremente e os dias de sol desenham sombras onde querem.
Através da impressão direta, do seu contorno delineado, ou do registo da observação, as marcas das formas vegetais efémeras, como pegadas da sua existência breve, tornam-se permanentes, congregam-se e misturam-se com formas imaginadas e outros elementos pictóricos.
A surpresa e diversidade, a riqueza formal e cromática, a individualidade de uma simples erva ou folha, são neste momento, um motivo de fascinação para mim: a natureza magnífica, mesmo a que pode parecer insignificante e pisamos aos pés. É sobre essa insignificância magnífica, esse brilho involuntário, essa surpresa e diversidade que quero debruçar-me.
Um olhar perante a fragilidade da beleza e da vida que tão frequentemente tomamos como banal, imutável e garantida.
Este é o ponto de partida para uma série de pinturas a óleo sobre vidro acrílico.
Na técnica que utilizo, a pintura é realizada totalmente pelo inverso do suporte e vista depois através da superfície, cuja transparência, enquanto permite a visibilidade, cria igualmente uma barreira. Este método permite (mesmo que apenas aparentemente) o acesso a todo o processo da pintura, tornando visíveis as suas camadas sucessivas.
Simultaneamente o ambiente envolvente e o jardim que entra nas salas pelas janelas, é refletido pelo próprio suporte, sendo assim adicionado à pintura e tornando-se nela participante.
Quero agradecer à Galeria da Biodiversidade do Jardim Botânico da Universidade do Porto a disponibilidade para acolher e expor o meu trabalho no seu belíssimo espaço.
Este edifício, mais concretamente o seu jardim, assim como a presença da poesia de Sophia, estão estreitamente relacionados com a prática que tenho vindo a desenvolver e é por isso uma grande alegria para mim poder mostrar o meu trabalho neste local que certamente o ilumina.
Assunção Melo
Sobre Assunção Melo
Assunção Melo vive e trabalha no Porto.
Concluiu em 1992 o Curso Superior de Artes Plásticas-Pintura na ESBAP (FBAUP). Iniciou em 1990 uma prática no campo da ilustração infantil e editorial. A partir de 2009, dedicou-se exclusivamente a um trabalho autoral em Pintura.
Participou em várias exposições coletivas e individuais, entre as quais: Casa-Museu Abel Salazar, Prémio Amadeo Souza-Cardoso, Bienal de Cerveira, Bienal de Espinho, Art Map- Ponte de Lima, Bienal Festa do Avante, Contextile-Modtíssimo, Alfandega do Porto, Arte Hoje, Sociedade Nacional de Belas Artes.
“Through the grass, between the foliage”
(from the poem o Jardim (the Garden) by Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947)
As if it were a kind of pictorial herbarium in which plants, leaves, branches, flowers and herbs are captured and registered on the surface, this work is predominantly based on plant forms. The colours and shapes that overlap and associate almost randomly in these paintings attempt an appropriation of the life of the garden, where plants grow freely and sunny days cast shadows wherever they wish.
Through direct printing of their delicate contours and recordings of observations, the marks of ephemeral plant forms, like footprints of their brief existence, then become permanent. They congregate and mix with imagined shapes and other pictorial elements.
The surprise and diversity, the formal and chromatic richness, the individuality of a simple blade of grass or leaf are now fascinating to me: magnificent nature, even when it seems insignificant and is often stepped on. I want to dive into this magnificent insignificance, this involuntary sparkle, this surprise and diversity.
A look at the fragility of beauty and life which we so often consider ordinary and permanent, taking it for granted.
This is the starting point for a series of oil paintings on acrylic glass.
In the technique I use, the painting is done entirely on the reverse side of the structure and then seen through the surface. Its transparency enables viewing as much as it creates a barrier. This method allows, even if only apparently, access to the entire process of painting, making its successive layers visible. Simultaneously, the surrounding environment that is the garden enters the room through the windows and is reflected on the structure itself, joining the painting and becoming an active participant.
I would like to thank the Hall of Biodiversity and the Botanical Garden of the University of Porto their availability for hosting and exhibiting my work in this extraordinary space.
This building, more specifically its garden and the presence of Sophia (de Mello Breyner Andresen) and her poetry are intimately connected with the work I have been developing. It is therefore a joy for me to be able to showcase my work in this this space, which undoubtedly brightens it.
Assunção Melo
About Assunção Melo
Assunção Melo lives and works in Porto.
She completed her degree in Fine Arts-Painting at ESBAP (FBAUP) in 1992. In 1990, she started practicing in the field of children’s and editorial illustration. Since 2009, she has been exclusively dedicated to her own work in Painting. She has taken part in several collective and solo exhibitions, including Casa-Museu Abel Salazar, Prémio Amadeo Souza-Cardoso, Bienal de Cerveira, Bienal de Espinho, Art Map- Ponte de Lima, Bienal Festa do Avante, Contextile-Modtíssimo, Alfandega do Porto, Arte Hoje, and Sociedade Nacional de Belas Artes.